A segunda onda da IA traz agentes autônomos capazes de executar tarefas complexas, integrar dados dispersos e colaborar com humanos, redefinindo funções, processos e decisões estratégicas nas empresas.
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A segunda onda da IA traz agentes autônomos capazes de executar tarefas complexas, integrar dados dispersos e colaborar com humanos, redefinindo funções, processos e decisões estratégicas nas empresas.
Acabo de retornar de Las Vegas, onde participei do Ai4 2025, o maior evento do mundo dedicado à Inteligência Artificial aplicada aos negócios, que reuniu mais de 600 palestrantes e 8 mil participantes. Se no ano passado o mercado ainda estava muito voltado para grandes modelos de linguagem (LLMs), como ChatGPT e Gemini, e seus usos iniciais, neste ano ficou claro que estamos entrando em uma nova fase da IA.
Gosto de chamar essa fase de segunda onda. A primeira foi marcada pelos agentes reativos, como o próprio ChatGPT, que respondem a uma ação do usuário, mas não vão além disso. Eles não tomam iniciativa, não interagem com o ambiente externo nem são capazes de executar tarefas de forma independente e autônoma. A segunda onda, que ficou evidente no Ai4, é a dos agentes autônomos. Diversas empresas apresentaram soluções nesse sentido: sistemas que conseguem pensar, decidir e agir sozinhos. Eles se comunicam com APIs, consultam bancos de dados, cruzam informações, acessam sites e oferecem respostas muito mais sofisticadas do que apenas uma resposta a perguntas.
No setor bancário, por exemplo, atualmente ainda predominam os chats estáticos, em que o cliente precisa escolher entre “digite 1 ou 2”. Com um agente autônomo, essa experiência muda completamente: o sistema pode negociar uma parcela em atraso, checar regras internas, propor alternativas e até mesmo encaminhar o caso a um humano, caso seja necessário. Esse modelo inaugura uma nova lógica de colaboração: humanos e agentes trabalhando lado a lado. Não se trata de substituição total, mas de uma redistribuição das responsabilidades. O humano passa a intervir nos momentos mais estratégicos (no início e no fim do processo), enquanto os agentes assumem parte da execução operacional e repetitiva.
O Ai4 também trouxe reflexões importantes sobre setores diretamente impactados por essa mudança. Um exemplo é o jornalismo. Executivos de veículos de imprensa estiveram por lá discutindo como o tráfego de seus sites tem diminuído à medida que usuários recorrem a ferramentas de IA para obter informações. A consequência é inevitável: algumas funções serão reagrupadas, novas serão criadas e algumas deixarão de existir. A maioria das tarefas será reorganizada, e parte delas será automatizada, mas sempre com a participação humana como instância final de validação.
Outro ponto que me chama a atenção nesta segunda onda é a aplicação da IA em Business Intelligence. Atualmente, muitas empresas ainda possuem silos de informação: o RH tem seus indicadores, o financeiro outros, e os dados realmente necessários para uma decisão estratégica podem estar espalhados em canais como Slack, Discord, Notion ou até em planilhas isoladas. Essa segunda onda da IA, com a participação de agentes autônomos, será capaz de quebrar esses silos, integrando dados dispersos e permitindo consultas mais inteligentes e contextualizadas. Nessa evolução cada pessoa passa a ter seus proprios agentes autônomos, ou seja, assistentes digitais capazes de reunir informações de múltiplas fontes, cruzar dados e oferecer análises que antes exigiam horas de trabalho humano.
Arrisco a dizer que essa tendência abre caminho para algo inédito: a criação de vagas para agentes autônomos. Funcionaria assim: a Dynadok, que é especializada em automatizar a validação de documentos com inteligência artificial, pode desenvolver um agente autônomo voltado para uma função específica. Caso outra empresa necessite exatamente desse tipo de solução, terá a possibilidade de “contratar” o agente criado pela Dynadok.
Apesar das transformações profundas, os palestrantes do Ai4 buscaram contextualizar esse movimento como parte de uma evolução histórica. Assim como aconteceu na Revolução Industrial, estamos atravessando um momento de transição que inevitavelmente gera ansiedade, mas que também abre oportunidades para um novo patamar de desenvolvimento humano e tecnológico.
Um recado importante do evento foi claro: as empresas precisarão investir em letramento em IA. Não basta esperar que cada colaborador aprenda por conta própria. É necessário estruturar programas de capacitação, definir protocolos de segurança e orientar o uso responsável dessas ferramentas. Colocar informações confidenciais em plataformas abertas, por exemplo, é um risco que precisa ser mitigado com soluções seguras e com estratégia organizacional bem definida.
Volto do Ai4 2025 com a convicção de que essa segunda onda da Inteligência Artificial é inevitável e transformadora. Os agentes autônomos já não são apenas um experimento de laboratório: eles estão prontos para assumir tarefas complexas, interagir com ambientes externos e apoiar decisões críticas. Cabe a nós, líderes e gestores, preparar nossas equipes e nossas empresas para esse novo cenário: em que a parceria entre humanos e IA não é mais opcional, mas condição para prosperar.
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Natural de Resplendor (MG) e residente em Recife (PE), Willian Valadão é um empreendedor em série formado em Ciência da Computação pela PUC Minas, com pós-graduação em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral e Gestão de Projetos pelo Instituto de Educação Tecnológica. Ele é fundador e CEO da Dynadok, startup de validação documental por Inteligência Artificial. Antes da Dynadok, idealizou, escalou e vendeu duas startups para empresas de capital aberto: a plataforma de estudos Beduka e a rede social profissional Peixe 30. Willian também é investidor e sócio da venture building Aleve.
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