IA está transformando o mercado imobiliário, qualificando leads e agilizando vendas, mas o corretor humano segue essencial para confiança e decisões estratégicas.
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IA está transformando o mercado imobiliário, qualificando leads e agilizando vendas, mas o corretor humano segue essencial para confiança e decisões estratégicas.
O mercado imobiliário é um dos mais tradicionais da economia. Comprar ou vender um imóvel continua sendo, para a maioria das pessoas, a decisão financeira mais relevante da vida. Apesar disso, o setor nunca esteve tão impactado por novas tecnologias. O que há mais de uma década estava restrito a sites de busca, anúncios digitais e até folhetos, agora se expande com força: a inteligência artificial começa a estruturar a jornada do cliente, redesenhar a atuação dos corretores e redesenhar modelos de negócio. Um exemplo direto dessa reconfiguração é a qualificação de leads, onde a IA otimiza o tempo do corretor ao apresentar contatos mais maduros e propensos à conversão..
De acordo com a The Business Research Company, o mercado global de inteligência artificial aplicada ao setor imobiliário, avaliado em US$ 2,9 bilhões em 2024, deve atingir US$ 41,5 bilhões até 2033, crescendo a uma taxa média de 30,5% ao ano. Trata-se de um grande salto de escala em um segmento historicamente conservador. Mas a aceleração decorre de uma ideia simples: a maior eficiência em processos que, até hoje, consomem tempo, energia e recursos de corretores, incorporadoras e consumidores.
Segundo a McKinsey & Company, plataformas de busca com IA conseguem personalizar resultados e elevar em, no mínimo 25%, o engajamento dos usuários. Além disso, ferramentas de análise de mercado baseadas em IA conseguem identificar tendências emergentes para o mercado imobiliário com 90% de precisão (algo impossível para o acompanhamento humano), enquanto sistemas de avaliação de imóveis por IA alcançam uma margem de erro de apenas 3%, aumentando significativamente a precisão da avaliação quando comparada àquela feita por humanos.
Esse conjunto de inovações ataca pontos frágeis da experiência imobiliária: jornadas longas, excesso de informações desconexas, dificuldade em filtrar clientes realmente prontos para negociar e margens de erro que atrasam ou inviabilizam transações.
Se, por um lado, a IA amplia a produtividade, por outro abre uma frente de riscos que não podem ser ignorados. Uma pesquisa recente da Originality.ai, plataforma de autenticidade de conteúdo, analisou mais de 10 mil avaliações de corretores no Zillow, um dos maiores portais imobiliários dos EUA, e o resultado foi péssimo: em 2025, 23,7% das avaliações provavelmente foram escritas por IA, contra apenas 3,63% em 2019. O aumento foi de 558% em seis anos.
Esse dado aponta para um problema de confiança, porque avaliações são parte central do processo de decisão de quem busca um imóvel. Elas funcionam como o “boca a boca” do mundo digital. Quando o consumidor descobre que uma parte significativa desses relatos pode não ter origem humana, instala-se uma desconfiança difícil de reverter. No limite, o risco é que a tecnologia comprometa a própria credibilidade de plataformas que se sustentam na promessa de intermediação inteligente.
A discussão sobre autenticidade é especialmente sensível no setor imobiliário porque não estamos falando de compras triviais. Um comentário artificialmente positivo pode influenciar a decisão de financiar um bem que comprometerá a renda familiar por décadas. É diferente de avaliações de restaurantes ou produtos de consumo. Aqui, o impacto é estrutural na vida das pessoas.
A IA não é capaz de ser uma substituta integral do trabalho humano no mercado imobiliário. Incorporadoras que enxergarem a IA, apenas como atalho para cortar custos perderão de vista a essência do negócio, que é a confiança entre as partes. O papel da IA, ao contrário, é liberar os profissionais da sobrecarga de tarefas repetitivas e reposicioná-los para atuar onde fazem diferença: na negociação final, na escuta das necessidades reais do cliente, na mediação de conflitos e na orientação em decisões financeiras complexas.
Trata-se de reconfigurar o funil de vendas. Em vez de desperdiçar tempo atendendo leads sem perfil adequado, o corretor passa a receber contatos mais maduros, já filtrados pela tecnologia, que realmente estão prontos para a compra de um imóvel. A consequência é um processo de trabalho mais ágil com taxas de conversão mais altas.
No Brasil, a Morada.ai, proptech que cofundei em 2021, desenvolveu a agente conversacional Mia, que atua justamente na etapa inicial do relacionamento com o cliente. Em três anos, a Mia já atendeu cerca de 2 milhões de pessoas, aumentou em 83% a conversão de leads e contribuiu para movimentar R$ 48,3 bilhões em lançamentos imobiliários. Apenas em 2024, nossa startup registrou um crescimento de 630% em receita, atendendo quase 200 incorporadoras com clientes em todos os estados brasileiros, entre elas gigantes como Direcional, Cyrela, Patrimar/Novolar, Emccamp e Plano e Plano.
O que diferencia a Mia de outras soluções de mercado é a capacidade de interação genuína. Não existe um roteiro rígido de perguntas e respostas, o que o consumidor encontra é uma assistente que conversa em linguagem natural, no idioma que preferir. O cliente pode discutir desde o limite de financiamento até detalhes como saber “onde bate o sol” no apartamento. Quando o potencial de compra está maduro, a Mia transfere o contato ao corretor, que assume a conversa no momento mais estratégico. Esse modelo reorganiza a lógica da corretagem, com um ciclo de vendas mais curto e eficiente.
O debate sobre IA costuma oscilar entre dois extremos: a euforia com ganhos de escala e o medo da substituição dos profissionais. A realidade é menos simplista. Vejo que o futuro do corretor de imóveis, assim como o de diversas outras profissões, é híbrido, sendo apenas potencializado pela IA. O caminho mais promissor será usar a IA para reduzir tarefas repetitivas, ganhar produtividade e eficiência, mas confiar ao humano o que depende de empatia, interpretação e julgamento.
Um setor que cresce a taxas acima de 30% ao ano no mundo não será movido apenas por algoritmos. Ao mesmo tempo, um corretor que insista em trabalhar sem apoio tecnológico ficará em desvantagem diante da concorrência. E relembro, aqui, que comprar um imóvel sempre será uma decisão impactadas por afetos, medos e expectativas de futuro. É nesse âmbito que o corretor permanece essencial.
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Cerca de 20 anos na liderança de áreas de Inovação, Negócios, Planejamento e Tecnologia da Informação. Amplo conhecimento do ecossistema internacional de inovação (Vale do Silício, Boston, Canadá, Reino Unido, Israel, Chile, Portugal e China). Doutorando em Inovação pela UFMG, Mestre em Gestão da Inovação pela UFMG, pós-graduado em Gestão de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas e graduado em Sistemas de Informação.
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