Moda, Criatividade e Inteligência Artificial: Uma Nova Era Está Começando 

A moda do futuro será cocriada com IA, mas seguirá profundamente humana. Designers que provocam a tecnologia com autenticidade e intenção já estão moldando essa nova estética criativa.

E se te dissessem que a moda do futuro seria co-criada com inteligência artificial, mas ainda assim será profundamente humana? 

Apesar de ainda questionada, a integração entre inteligência artificial generativa e moda já está presente em editoriais, coleções, campanhas e até mesmo nos processos criativos. Grandes empresas como H&M (Hennes & Mauritz AB), varejista sueca, usando avatares de modelos reais recriados com inteligência artificial, Hugo Boss implementado globalmente a IA em seus conteúdos digitais e até mesmo o grupo LVMH usando Agentes de IA com o intuito de promover uma melhor experiência para seus consumidores, mostram que esse é apenas o começo dessa transformação. 

Reprodução: Hugo Boss

Um ótimo exemplo de software criado para a indústria da moda é a AiDA, uma assistente de design com inteligência artificial, criada por um laboratório de inovação em Hong Kong em parceria com o Royal College of Art de Londres. A AiDA é capaz de transformar moodboards e sketches em coleções inteiras, e o comentário de Mountain Yan, designer fundador da 112 Mountainyam, chama atenção:

O sistema foi capaz de acelerar meu processo de ideação de 60 a 70%”.

Mountain Yan, designer fundador da 112 Mountainyam
Mountain Yan, designer fundador da 112 Mountainyam

Não é sobre substituir o olhar do designer mas sim ampliá-lo e usar a inteligência artificial como uma extensão da mente criativa.

Outra iniciativa que mostra eficiência criativa na indústria da moda é a Fabric, startup fundada por Seda Domaniç, ex-editora-chefe da Vogue Turquia e selecionada pelo programa de aceleração da LVMH. A plataforma já colabora com marcas como Aquazzura, Istituto Marangoni Miami e tem se tornado uma aliada indispensável para designers que querem unir criatividade e eficiência. 92% dos designers que usam a ferramenta afirmam que ela já faz parte da rotina diária de criação. Com a Refabric, tarefas repetitivas são reduzidas em até 88%, enquanto o tempo de edição e conversão de croquis para design final cai até 85%. Tudo isso com base em prompts, imagens e sketches, que são transformados em variações visuais aplicadas diretamente em modelos e cenários criados por IA. 

Imagem: Refabric

Apesar dos avanços acelerados no uso de inteligência artificial na moda fora do Brasil, ainda existe uma resistência significativa por aqui, principalmente entre pequenas marcas, profissionais independentes e instituições de ensino. As preocupações são muitas: desde o medo da substituição dos designers até os debates éticos sobre o uso de referências de terceiros, já que muitas dessas IAs foram treinadas com bancos de dados pouco transparentes. Essa é, sim, uma discussão urgente. Principalmente

quando se fala em prompts genéricos, que resultam em criações superficiais, repetitivas e sem o lado Humano. Mas é importante dizer: uma IA alimentada por referências vazias só reproduz o que já existe. Por outro lado, uma inteligência artificial provocada por mentes críticas e autorais pode gerar resultados verdadeiramente novos, inesperados, expressivos. E isso já está acontecendo aqui. 

Temos designers brasileiros que estão ressignificando o uso dessas ferramentas em seus processos criativos e que não têm medo de experimentar, provocar e romper com modelos tradicionais. Como é o caso da Inóbvia, marca brasileira que criou a primeira bolsa do mundo feita com Inteligência artificial e confeccionada no mundo real. Muitos começam pelo ChatGPT, da OpenAI, ainda o mais conhecido e acessível, mas com o tempo e apoio de empresas e instituições, começam a explorar soluções mais avançadas e especializadas. 

Comparativo entre produto simulado com inteligência artificial e produto final real

Estamos diante de uma oportunidade gigantesca. A inteligência artificial não vai substituir o olhar criativo mas a diferença ficará clara entre quem apenas repete fórmulas e quem sabe provocar a tecnologia com autenticidade, intenção e coloca seu DNA no projeto. Profissionais treinados com repertório vocabular criativo que usam a IA como aliada, vão facilmente se destacar. Uma frase que nunca esqueci, do Imran Amed, fundador do Business of Fashion, resume bem esse momento: “As pessoas mais criativas que conheço estão usando inteligência artificial em seus processos criativos.” 

No fim, a moda continua e sempre continuará sendo uma forma de expressão. Política. Cultural. Emocional. E a inteligência artificial, quando guiada por mentes criativas e questionadoras, pode não só acompanhar mas ser usada como o que chamamos de Inteligência Aumentada, amplificando a potência criativa. Quanto mais caminhamos para um mundo automatizado, mais precisamos alimentar nosso pensamento crítico, refinar nosso repertório e lembrar do que nos torna humanos. 

Estamos entrando em uma nova era da moda, onde código e croqui se misturam e quem sabe fazer as melhores perguntas, lidera.

Michelle Douglas

Michelle Douglas é uma profissional reconhecida por seu trabalho na interseção entre moda e tecnologia. Possui uma trajetória acadêmica sólida, com passagens pela Faculdade Santa Marcelina, Central Saint Martins, University of the Arts London e Istituto Marangoni. Desenvolve projetos que exploram o uso estratégico da inteligência artificial na indústria da moda, aliando criatividade, sensibilidade estética e pensamento crítico. Com uma visão de futuro e abordagem multidisciplinar, vem se consolidando como uma das vozes mais relevantes da nova geração criativa conectada à transformação digital.