A liderança jurídica que ignora a IA caminha para a obsolescência. Dominar tecnologia virou pré-requisito — e resistir significa perder clientes, talentos e relevância no mercado.
Home » Quem não domina, demite: sócios e diretores jurídicos resistentes à IA queimam o próprio escritório e seus departamentos jurídicos
A liderança jurídica que ignora a IA caminha para a obsolescência. Dominar tecnologia virou pré-requisito — e resistir significa perder clientes, talentos e relevância no mercado.
Vivemos um ponto de inflexão no mundo jurídico. Pela primeira vez em séculos, o domínio técnico da lei já não é suficiente para garantir a sobrevivência, muito menos a relevância, de um escritório de advocacia ou de um departamento jurídico empresarial. A inteligência artificial, combinada à automação, à análise de dados e à cultura digital, está mudando o jogo. E quem ocupa hoje posições de liderança e ainda resiste a essa virada tecnológica está, sem perceber, apagando as luzes do próprio negócio.
O que antes era visto como “acessório estratégico”, ou seja, inovação, IA, tecnologia, agora é uma exigência mínima. Startups jurídicas operam com estruturas enxutas, mas com entregas exponenciais. LegalTechs oferecem soluções que resolvem em segundos o que escritórios inteiros levariam horas (ou dias). Departamentos jurídicos das grandes corporações estão sendo cobrados a reduzir custos e aumentar eficiência, não com mais advogados, mas com mais tecnologia.
A transformação não é silenciosa. É gritante. E, mesmo assim, muitos sócios e diretores jurídicos continuam presos a uma lógica analógica em um mundo que virou digital. O problema? Essa miopia cobra um preço altíssimo: evasão de clientes, perda de competitividade, obsolescência das equipes e o risco concreto de extinção do negócio.
A resistência à mudança raramente é técnica, é quase sempre emocional. Muitos sócios veem a inteligência artificial como uma ameaça à sua autoridade construída com décadas de experiência. Diretores jurídicos temem expor sua própria fragilidade tecnológica ao embarcarem em iniciativas inovadoras. O resultado é um ciclo tóxico: líderes inseguros freiam a inovação, e isso desmotiva equipes que já estão sedentas por transformação.
A nova geração de advogados, formada em um mundo digital, multicanal e acelerado, não quer mais trabalhar em estruturas hierarquizadas que não entendem o valor de um bom prompt. Eles querem aprender a usar inteligência artificial generativa para pesquisar jurisprudência, automatizar petições, simular riscos. Querem aprender low code, querem participar de hackathons jurídicos. E se não encontram isso dentro do seu time, mudam de time.
A inteligência artificial não é apenas uma ferramenta de produtividade. Ela já é, e continuará sendo, uma vantagem competitiva. Organizações jurídicas que adotaram modelos de inteligência artificial nos seus fluxos internos relataram ganhos de até 70% em eficiência, segundo estudos recentes da Thomson Reuters e da Harvard Law School. Mais do que isso: estão capturando novos tipos de clientes, atraindo talentos com perfil multidisciplinar e expandindo seu posicionamento para áreas antes inexploradas.
Em contrapartida, os líderes que continuam tratando a inteligência artificial como “modinha passageira” estão cultivando um passivo estrutural invisível: processos inflados, baixa retenção de talentos, perda de inteligência organizacional e uma crescente dependência de operações manuais — caras, lentas e arriscadas.
O discurso mais perigoso que ainda ecoa nas salas de sócios é: “não sou da tecnologia”. Mas ser ou não ser da tecnologia já não é mais escolha, é competência obrigatória. Esperar que “alguém do time resolva” ou delegar tudo ao TI é uma falácia que só serve para postergar o inevitável.
Hoje, ser um líder jurídico estratégico significa também entender, no mínimo, como funcionam LLMs (Large Language Models), como se estrutura uma jornada automatizada de atendimento, como treinar uma base de conhecimento e como usar IA para decisões com base em dados.
Não é preciso ser engenheiro de software. Mas é preciso ser alfabetizado em inovação. E isso começa com curiosidade. E coragem.
O novo líder jurídico não é apenas um jurista com experiência técnica. É um estrategista digital. É alguém que sabe dialogar com engenheiros, desenvolvedores, designers e cientistas de dados. Alguém que entende que a próxima fronteira do direito não está na norma, mas na interoperabilidade entre sistemas, entre modelos jurídicos e linguagens computacionais.
É alguém que, antes de dizer “isso não é possível”, pergunta “qual parte ainda não entendi?”.
Advogados não serão substituídos por IA. Serão substituídos por outros advogados que usam IA. Isso vale para sócios e diretores jurídicos. Quem resistir à mudança será naturalmente substituído por quem lidera com inovação.
A demissão de lideranças jurídicas tradicionais já começou. E o que está em jogo não é apenas a eficiência de um time, mas a própria existência de bancas e departamentos jurídicos.
Se você é sócio, diretora jurídica ou líder na área: não espere ser pressionado pelo mercado. Antecipe-se. Aprenda. Transforme. Domine. Porque quem não dominar, inevitavelmente, será dominado — ou desligado.
Advogada especializada em M&A e investidora anjo, CEO da Aleve LegalTech Ventures, a primeira Venture Builder especializada em legaltechs no Brasil.
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