Do caos à conversão: como a IA reinventa o UGC para marcas

 Ferramentas de IA organizam, analisam e potencializam o conteúdo dos consumidores, gerando insights que impulsionam branding, performance e vendas

O marketing digital vive uma transformação de paradigmas. Se antes as campanhas apoiavam-se no alcance de celebridades e grandes influenciadores, hoje o protagonismo está cada vez mais nas mãos dos consumidores comuns. O chamado Conteúdo Gerado pelo Usuário (UGC) ganhou força por transmitir autenticidade e aproximar marcas de diferentes nichos de forma mais orgânica do que vozes que habitam realidades distantes. O potencial econômico desse movimento é expressivo: o mercado global de UGC deve movimentar US$ 9,4 bilhões já em 2025 e alcançar US$ 46,5 bilhões até 2034, em um ritmo de crescimento anual de 19,5%, segundo a Dimension Market Research. Nesse cenário de expansão acelerada, surge um novo dilema para as empresas: como gerenciar tamanha produção sem perder relevância e eficiência estratégica?

Não podemos negar que a Inteligência Artificial tem um papel importante nas estratégias de marketing. Nove em cada dez profissionais deste setor (87%) e de comunicação (85%) usaram ou experimentaram ferramentas de (IA) para pelo menos uma aplicação, de acordo com uma pesquisa realizada pelo The Conference Board em colaboração com a Ragan Communications. No Brasil, 64% dos profissionais de marketing brasileiros em B2B usam inteligência artificial generativa no dia a dia, é o que aponta um levantamento do  “O Status do Marketing B2B”, desenvolvido pela Intelligenzia. 

Quando trazemos essa enfoque para o UGC, entendemos que essas ferramentas podem organizar e classificar esses conteúdos produzidos pelos usuários com mais rapidez, identificando se estão alinhados aos valores das marcas, briefings, identificando sentimentos, analisando performance, ganchos criativos, chamadas para ação (CTAs), além de indicar padrões de engajamento que ajudariam os times de marketing a otimizar campanhas em tempo real.

Este olhar não é à toa: uma pesquisa feita pela PowerReviews sugere que as conversões de leads aumentam em 100% quando os visitantes do site interagem com o UGC. Conteúdo como avaliações, perguntas e respostas e recursos visuais pode ajudar a convencer os consumidores, especialmente porque o comércio eletrônico continua crescendo.

Inteligência artificial não substitui os creators

A inteligência artificial não vem para substituir os creators nem comprometer a autenticidade do UGC. Seu papel é potencializar: funciona como um motor de escala e inteligência capaz de transformar grandes volumes de conteúdo em insights acionáveis. Para as marcas, isso significa decisões mais rápidas e assertivas, com reflexos diretos em branding, performance e resultados de mídia.

Além disso, há casos concretos de empresas que, ao aplicar IA para análise de sentimentos e performance de conteúdo gerado por usuários (UGC), viram saltos expressivos de engajamento e conversão. Um estudo da Scaling Content Creation apontou que sites que exibem estrategicamente UGC recorrem a aumento de cerca de 29% nas taxas de conversão. Outro exemplo: o time de marketing da equipe de basquete estadunidense Atlanta Hawks utilizou análise de sentimento em tempo real para ajustar sua estratégia em redes sociais, com resultado de 127% mais visualizações de vídeo em três meses.

Transparência é o fator decisivo na atualidade

À medida que os consumidores buscam transparência e experiências reais, as marcas integram conteúdo criado pelos usuários em suas campanhas de marketing para aumentar o engajamento, construir a confiança da comunidade e impulsionar as decisões de compra. O marketing UGC prospera com base na interação, colaboração e conexão emocional, frequentemente desempenhando um papel vital no comércio social, no marketing de influência e em estratégias digitais omnichannel. Os consumidores não são mais receptores passivos de conteúdo de marca; eles participam ativamente da construção da identidade de uma marca, compartilhando suas experiências reais online.

Os profissionais de marketing já entenderam essa mudança, integrando conteúdo criado pelos clientes em seus sites, campanhas de e-mail e anúncios pagos para aumentar a credibilidade e as taxas de conversão. De avaliações com fotos em sites de e-commerce a depoimentos em vídeo no YouTube e TikTok, marcas de setores como moda, viagens, eletrônicos de consumo e alimentos e bebidas estão investindo em ferramentas e plataformas de UGC que ajudam a descobrir, selecionar e distribuir conteúdo de usuários de forma eficaz.

As marcas agora estão explorando formatos dinâmicos de UGC, como histórias interativas e reais. Com análises avançadas, curadoria de conteúdo baseada em IA e plataformas de criadores de conteúdo se tornando mais acessíveis, empresas de todos os portes, desde empresas globais até PMEs, estão implementando esta estratégia para personalizar as jornadas do cliente e aumentar o alcance da marca. Espera-se que o futuro do mercado seja moldado por uma colaboração mais profunda entre criadores, narrativas impulsionadas pela comunidade e pela crescente preferência do consumidor por experiências de conteúdo validadas por pares.

O próximo passo para o UGC será usar a inteligência artificial não apenas para organizar o conteúdo existente, mas para antecipar tendências de consumo e comportamentos emergentes. Algoritmos avançados serão capazes de mapear padrões de engajamento, preferências implícitas e sinais sutis de interesse, permitindo que as marcas criem campanhas cada vez mais personalizadas e relevantes, muitas vezes antes mesmo que o público perceba suas próprias demandas. Essa antecipação transforma o marketing em uma prática proativa: em vez de reagir a tendências, as empresas passam a guiá-las.

Além disso, a IA integrada ao UGC permitirá uma compreensão mais profunda do impacto emocional das campanhas, identificando quais narrativas geram conexão real e quais mensagens precisam ser ajustadas. Isso significa que cada peça de conteúdo, seja uma avaliação, foto, vídeo ou comentário, poderá ser aproveitada estrategicamente para otimizar resultados, reforçar o branding e gerar engajamento qualificado.

O futuro do marketing digital será, portanto, uma colaboração contínua entre tecnologia e criatividade humana. A inteligência artificial não substitui a autenticidade dos consumidores nem o olhar estratégico dos profissionais de marketing; ela potencializa ambos, transformando o UGC em uma fonte de insights contínuos. As marcas que souberem integrar esses elementos estarão preparadas para liderar em um mercado cada vez mais orientado por dados, relevância e experiências autênticas.

Continue a sua leitura:

Deny Zatariano

Com mais de 25 anos de experiência no mercado, o publicitário Deny Zatariano é idealizador e Cofundador da Pikko. Tem passagens por agências como JWT, Contrapunto BBDO (Espanha), REF+ e Cheil Worldwide, além de ter atuado como head de comunicação da startup Gringo. Na REF+ que liderou a transformação digital da agência e sua expansão para o mercado hispânico, além de assinar cases de destaque, como a campanha #FreteAbusivoNão para o Mercado Livre - reconhecida entre as “25 Most Contagious Campaigns” pela revista britânica Contagious em 2018.