O efeito Felca nos condomínios: como a inteligência artificial pode ajudar

O efeito Felca evidencia riscos a crianças e adolescentes; IA em condomínios pode prevenir acidentes, reforçar segurança e educar moradores de forma preventiva.

Quando o youtuber Felca publicou o vídeo “Adultização”, ninguém poderia prever a proporção que ele tomaria. Quase 50 milhões de visualizações depois, a preocupação com as crianças e adolescentes cresceu e a pressão popular se converteu em debate legislativo para mudanças concretas no cuidado com as novas gerações. A Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados acaba de aprovar o Projeto de Lei 810/25, que impõe novas obrigações aos condomínios residenciais. Entre elas, instalar redes ou grades de proteção em áreas comuns, como piscinas, janelas e sacadas, e sinalizar pontos de risco de colisão ou acidentes nas áreas de circulação. O texto ainda estabelece que síndicos e condomínios respondam civilmente em caso de omissão quanto às regras de segurança.

E onde o uso da internet e as novas regras condominiais se encontram? Na correlação entre o uso de redes sociais e as altas taxas de suicídio entre jovens. O relatório KidsRights Index 2025 afirma que o uso das redes sociais, que estão em expansão descontrolada, alimenta problemas de saúde mental. O estudo aponta que “uma devastadora crise global de saúde mental entre crianças e adolescentes está atingindo níveis críticos, com o suicídio sendo a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde” e destaca que “mais de 14% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos em todo o mundo estão enfrentando problemas de saúde mental”. Não é exagero, portanto, impor que os condomínios, em prédios cada vez mais altos e vias movimentadas por carros, estejam preparados para barrar tentativas de suicídio.

O cenário brasileiro de uso da internet

Os dados do relatório TIC Kids Online Brasil 2024 ajudam a entender a dimensão do problema no país. Entre adolescentes de 11 a 17 anos, apenas 8% dizem ter certeza de que sabem ajustar configurações de privacidade em suas redes sociais. Quando o assunto é excluir contatos indesejados, só 13% têm certeza de como fazê-lo. Ou seja, milhões de jovens brasileiros estão online sem conhecimento mínimo de ferramentas de autoproteção.

A pesquisa também mostra que 30% já tiveram contato com desconhecidos pela internet, seja em redes sociais (maioria), mensagens instantâneas, sites de jogos, e-mail ou salas de bate-papo. Além disso, 29% afirmam ter vivido situações ofensivas ou discriminatórias online, sendo que uma parte significativa não contou para ninguém (13%) ou se limitou a compartilhar com um amigo/a da mesma idade (29%). Apenas 31% contaram aos pais ou responsáveis sobre o ocorrido. Imagine os perigos que estão correndo?

IA como aliada na vigilância de crianças e adolescentes

O síndico que não enxergar esses riscos, vai acabar reforçando-os sem querer. Na uCondo, transformamos essa consciência em ação. Comunicados oficiais, campanhas no aplicativo e reuniões informativas com moradores são passos básicos. Tudo isso por meio da nossa   inteligência artificial gratuita, a Móra, especialista em gestão de software para condomínios, que está treinada com base nas leis vigentes e de condomínios, além do código civil. Com base em dados, o sistema pode até indicar a necessidade de comunicar o acompanhamento de menores em determinados espaços, como piscinas, varandas, parquinhos e garagens, por exemplo. 

Na minha visão, a tecnologia e a Inteligência Artificial são grandes aliadas para criar uma cultura preventiva e educativa dentro dos condomínios. Ela facilita a comunicação, reforça normas de convivência e segurança de forma clara e constante e ajuda moradores e gestores a se manterem mais atentos e conscientes. Quando usada de maneira inteligente, não é apenas um recurso de fiscalização, mas também um instrumento de educação coletiva, que incentiva boas práticas, reduz riscos e fortalece o senso de comunidade. 

Outro avanço é o reconhecimento facial, desenvolvido de forma 100% alinhada à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Essa tecnologia, que integra os equipamentos (hardware) de empresas que mexem com infraestrutura de acesso a edifícios à nossa aplicação (software), permite a identificação de irregularidades e o reforço de segurança de forma inteligente. 

Da fiscalização à educação coletiva

É preciso reforçar que a tecnologia não substitui a responsabilidade humana. Síndicos, moradores e funcionários continuam sendo agentes centrais da proteção da infância e da juventude dentro dos condomínios. É um dever da sociedade civil, como consta no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990): 

“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.”

Assim, a cultura preventiva contra o suicídio e a violência dentro dos condomínios só se consolida quando tecnologia, comunicação e responsabilidade coletiva se somam. Estamos diante de uma mudança na gestão condominial: se antes ela era vista como administração de boletos e contratação de prestadores de serviços, agora ela mostra a necessidade de se assumir a função adicional de proteger uma comunidade. A tecnologia, nesse contexto, é, sim, um meio excelente para criar ambientes mais seguros e transparentes, mas não exime o papel de cada adulto em zelar pelo bem-estar das crianças e adolescentes que nos cercam.

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Marcus Nobre

Marcus Nobre é CEO da uCondo, startup especializada em plataformas de gestão condominial, e criador da Móra, IA especializada em condomínios. Com formação em Sistemas de Informação, possui MBA em Inteligência Artificial e Negócios e atua também como professor de inovação. Sua carreira começou em grandes bancos como HSBC e Bradesco, e ele foi vencedor de prêmios como o Talento Acadêmico entre Universidades no Paraná e o Startup Endeavor Scale-Up, com o projeto que hoje é a uCondo.